Como ler livros de graça ou pagando pouco (sem uso de pirataria)


Olá, escritores!

Vira e mexe aparecem, nas nossas redes sociais, posts de autores chateados por terem seus livros pirateados e de leitores respondendo que leem arquivos piratas, porque eles são vistos como "gratuitos".  

Sempre que um livro é pirateado, a cadeia produtiva do livro perde, principalmente o autor. O escritor é uma das pessoas mais prejudicadas, uma vez que já não ganha muito (cerca de 10% do valor de capa do livro físico e 15%, do e-book — quando o contrato é bom). Além disso, se esse escritor não vende, fica muito difícil de conseguir a renovação do contrato ou um novo contrato com uma editora maior ou melhor. Ou seja, a pirataria prejudica muito a longevidade da carreira daquele autor.

Há pessoas que dizem que leem apenas livros de autores estrangeiros de forma pirateada. Isso contina sendo crime e também prejudica a autoria brasileira. Isso porque muitos contratos de livros estrangeiros ajudam a manter a publicação nacional, uma vez que esta é uma das formas que algumas editoras têm de levantar mais dinheiro. Livros que vendem mais acabam abrindo portas para novos autores.

Por isso, escrevemos este artigo. Porque a verdade é que, além de escrever, faz parte do nosso papel como escritores: 

1. lembrar a todos que pirataria é crime;  

2. incentivar a leitura dentro da legalidade, de preferência, sem muitos custos para os leitores que não têm acesso a pagar por livros caros.

Escritores passam anos trabalhando em um livro. Esse trabalho deve ser valorizado.
(Imagem de Fernanda Rodrigues, por Bruna T. Russo)

O que é considerado pela lei como pirataria

Pirataria é a violação dos direitos autorais do artista (no caso de livros, do autor, do ilustrador, do fotógrafo, do tradutor e demais profissionais envolvidos a depender da obra). Essa violação, em outras palavras, é o uso indevido do livro sem a permissão de seus autores

Segundo o artigo 184, do Código Penal, entende-se como uso indevido a reprodução total ou parcial de uma obra, bem como a sua venda e difusão sem autorização expressa de seus autores. A pirataria é um crime que pode ter como pena até 4 anos de reclusão e multa, nos casos mais graves. Para ler o artigo 184 por completo, clique aqui.

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Como ler livros de graça ou pagando menos

Lendo de graça

Sobre a leitura sem gastos financeiros com a obra, elencamos 6 formas:

  1. Para a leitura dos clássicos e livros em domínio público, é possível baixar os arquivos em dois sites: o brasileiro Domínio Público e o estrangeiro Archive
  2. Para qualquer tipo de livro, há a possibilidade de empréstimos de bibliotecas tanto para livros físicos, quanto para livros digitais.
  3. Para livros de um autor em específico, há o booktour.
  4. Se você fala sobre livros na internet, é possível ainda fazer parcerias com autores e editoras.
  5. Para exemplares físicos, é possível ir a eventos de trocas de livros;
  6. Leitores podem emprestar ou trocar livros com os outros amigos que leem.
Abaixo, detalharemos cada modo de fazer.

Imagem por Lisette Brodey, via Pixabay.

Dominio Público 


O acesso pode ser feito pelo link: http://www.dominiopublico.gov.br/. Como pode ser visto na imagem acima, à esquerda é possível fazer a pesquisa pelo tipo de mídia (texto), então buscar a categoria (Literatura,  Literatura infantil ou Literatura de cordel) e idioma. Caso busque por um escritor ou obra específico, use os campos autor e título. Nesta parte do site também é possível escolher obras de não ficção ou de outras áreas no campo categoria. Embaixo da área de busca, é possível clicar nos banners para conteúdo específico sobre legislação, Educação e História da África.

À direita há um espaço com destaques dos conteúdos importantes, como todas as obras do Machado de Assis e um site especial sobre ele, livros de educação e de literatura infantil em português. 

Archive


Entre em archive.org. Lá há vários caminhos para encontrar o livro desejado (prints acima, clique para ampliar). Você pode escrever o nome do texto na caixa de busca onde está escrito a palavra Search; pode usar a busca avançada, clicando em Advanced Search; pode usar as coleções na área Top Collections; ou ainda acessar às bibliotecas clicando Text, no menu do topo do site. Ali abrirão várias opções de bibliotecas. Tanto o site, quanto seu conteúdo é majoritariamente em inglês, mas é possível encontrar arquivos em outros idiomas também.

Bibliotecas (livro físico)

Imagem por StockSnap, via Pixabay.

Há diversos tipos de bibliotecas e isso vai variar um pouco dependendo do tamanho da cidade em que o leitor mora. Deixamos aqui uma pequena lista de lugares que costumam ter bibliotecas abertas à comunidade:

  • bibliotecas municipais: busque no site da sua prefeitura se há bibliotecas no seu município. No site das prefeituras costuma haver as informações de endereço, cadastro, tempo de empréstimo e multas (caso haja atraso no devolução). No caso da minha cidade, São Paulo, o site com as informações é este.
  • bibliotecas estaduais: assim como acontece com as bibliotecas municipais, os estados também são responsáveis por um certo número de acervos. Você pode pesquisar por "bibliotecas estaduais + sigla do seu estado" para obter as informações. No caso do estado de São Paulo, o site é o do SisEB.
  • bibliotecas do SESC: o SESC tem um trabalho muito bonito com tanto com bibliotecas em espaços permanentes em suas unidades ao longo do Brasil, quanto com o projeto BiblioSesc (caminhão-biblioteca que circula pelo país). Todas as informações estão aqui
  • bibliotecas de ONGs e Institutos: muitas organizações não governamentais (ONGs) e institutos que bibliotecas. Algumas delas especializadas (como o caso do Instituto Moreira-Salles, que tem um acervo voltado à fotografia). Então, vale visitar esses espaços e se informar como fazer os empréstimos.
  • bibliotecas universitárias: muitas universidades abrem seus acervos não apenas para os seus estudantes, mas também para a comunidade do entorno. Para isso, basta fazer um cadastro especial. Se houver alguma universidade próxima à sua casa, vale a pena perguntar se esse serviço está disponível e como é o processo de inscrição.
  • bibliotecas escolares: normalmente escolas de Ensino Fundamental, Médio e Técnico têm (ou deveriam ter) bibliotecas atualizadas. Se você for aluno, vale dar um pulo neste espaço e conversar com a bibliotecária de plantão.

Vale dizer que muitas das bibliotecas têm sites em que é possível verificar se há o livro no acervo sem ter que ir presencialmente até lá. Algumas delas também fazem a consulta via telefone.

Também é legal saber que algumas dessas bibliotecas podem ter acervos especializados seja por tema, seja por material. Em São Paulo há bibliotecas temáticas (poesia, literatura afro-brasileira, cinema, feminista, de contos de fada, de literatura fantástica, de ciências etc.) e com materiais específicos (como a biblioteca em braile ou a gibiteca). Isso tudo, fora as edições mais antigas, que são raras. Então, uma visita à biblioteca pode ser muito enriquecedora não só por permitir o empréstimo do livro da moda nas bookredes, mas também por possibilitar a descoberta de uma obra bem diferente da zona de conforto do leitor.

Bibliotecas digitais (para e-books)

Página inicial do site da BibliON. 

BibliON: Em São Paulo, há a BibliON, Biblioteca Digital Gratuita do Estado de São Paulo, em que é possível se cadastrar, baixar o app e, além de fazer empréstimos, ouvir a podcasts literários e participar de clubes de leitura. Embora no site diga que a BibliON é para "Todos os cidadãos do Estado de São Paulo", pessoas de todo o Brasil podem se cadastrar. Além da nossa comunidade ter nos ajudado com esta dúvida, escrevemos para o contato da plataforma que nos respondeu dizendo "que a BibliON está à disposição de qualquer pessoa que se cadastrar para utilizá-la."

ABL: No site da Academia Brasileira de Letras, ABL, é possível ler as edições da Revista Brasileira e ter acesso aos acervos arquivístico, bibliográfico e museológico, bem como consultar o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa). Há ainda um dicionário (que no momento desta publicação tem a sua construção em desenvolvimento).

BN: No site da Biblioteca Nacional Digital, pode-se ver/ler os arquivos digitalizados de livros, correspondências, jornais e demais artigos da Biblioteca Nacional. Além desses acervos, o site da Biblioteca Nacional traz uma lista de Bibliotecas Digitais pelo mundo, organizada por regiões. Acesse a lista aqui

Booktour

Antologias do Projeto Escrita Criativa.
(Imagem por Fernanda Rodrigues)

O booktour é organizado por um grupo de pessoas que querem ler o mesmo livro. Normalmente, este grupo escolhe um exemplar de um livro físico, monta um calendário de leitura e faz um sorteio para saber qual será a ordem de leitura dos participantes que lerão aquele exemplar. Cada um lê de acordo com o cronograma pré-estabelecido e, quando terminado, o livro é entregue (ou enviado pelo correio) ao próximo leitor, até que todos tenham lido e o ciclo se feche voltando para o primeiro leitor (que, normalmente, é o dono do exemplar).

Cada booktour tem seus próprios acordos, alguns deles são: os leitores poderão grifar e fazer anotações no livro lido? Se sim, com qualquer cor ou cada um terá uma cor diferente para identificação? Haverá encontros para discussão da leitura? Se sim, quantos? O que acontece com quem não respeitar o prazo de envio do livro para o próximo participante? O que será feito com o exemplar lido por todos: voltará ao dono, será sorteado entre os participantes do booktour? Quem arcará com o envio, caso precise de correio?

Muitos autores independentes e influenciadores literários gostam de organizar booktours seja para divulgar a sua obra gastando pouco (apenas o correio e o valor do exemplar), seja porque esta também é uma forma de criar comunidade e fazer vínculo com leitores.

Se você gosta de ler um autor em específico, pode pesquisar se não está acontecendo algum booktour de alguma de suas obras ou chamar um grupo de leitores e organizar o seu próprio.

Parcerias com autores e editoras

Ler e falar sobre livros na internet é uma forma de incentivo à leitura.
(Imagem por Fernanda Rodrigues)

Para os leitores que trabalham falando sobre livros na internet, é possível fazer parcerias com autores e editoras: eles lhes enviam as obras de forma gratuita e você, leitor, escreve/grava sobre o livro. Assim como dito com o booktour, cada parceria tem sua própria regra, portanto, é importante estar atento a isso. Deixamos algumas dicas:

  1. Pesquise sobre o autor/editora ANTES de fazer a parceria. 
  2. Seja realista: as regras propostas pelo parceiro são justas? Você vai conseguir cumprir com as regras da parceria?
  3. Se informe sobre o que fazer caso você não ache que a obra lida tenha qualidade literária (você saber fazer crítica sem ser ofensivo com o autor e com a editora?).
  4. Tenha os pés no chão: não se inscreva para TODAS AS PARCERIAS que surgirem, porque você provavelmente não dará conta. Selecione as que cabem no seu tempo e energia.
Normalmente as editoras abrem o processo de parceria na transição entre os semestres. Se você deseja ser parceiro tanto de autores, quanto de editoras, nossa dica é ficar de olho nas redes sociais e/ou se inscrever nas newsletters deles.

Eventos de trocas de livros
Eventos literários são sempre boas oportunidades para trocar e comprar livros.
(Imagem por Fernanda Rodrigues)

Alguns espaços culturais (museus, bibliotecas, ONGs etc.) promovem eventos periódicos de trocas de livros em que leitores levam um exemplar em bom estado e trocam por outro também em bom estado. Verifique se não há alguma troca na sua cidade. 

Em São Paulo, tanto a Casa das Rosas, quanto o Centro Cultural FIESP e o Museu da Língua Portuguesa fazem feiras de trocas. 

Empreste e troque com os amigos
Geralmente leitores têm amigos leitores. Também é possível trocar ou emprestar livros dos acervos dos amigos. Há a possibilidade de reunir um grupo e criar o evento de trocas (ou empréstimos) dentro de um determinado grupo.

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Lendo de gastando (muito) pouco

Imagem por Roy Buri, via Pixabay.

Sobre a leitura poucos gastos financeiros com a obra, selecionamos 8 dicas:

  1. Tenha uma reserva financeira;
  2. Tenha uma lista de compras com prioridades;
  3. Verifique o seu plano de telefonia celular;
  4. Se inscreva em newsletters de autores, editoras e livrarias;
  5. Participe de feiras dos livros das universidades;
  6. Compre livros em sebos;
  7. Fique de olho nos eventos da Amazon;
  8. Venda livros para comprar livros.
Abaixo, detalharemos cada uma dessas dicas.

Faça uma reserva financeira
Imagem por mejiamelissa, via Pixabay.


Sabemos que nem todo mundo pode separar dinheiro do orçamento para comprar livros; entretanto, se você puder, faça. Tenha uma quantia mínima e máxima para gastar com livros (físicos e digitais) por mês (por bimestre ou por semestre) que seja compatível com os seus rendimentos. Assim, você não corre o risco de gastar a mais e pensa duas vezes se aquela compra é realmente necessária


Tenha uma lista
Imagem por Tom, por Pixabay.


Pense quais são os livros que você quer ler e faça uma lista. Alguma das obras está disponível em bibliotecas? E em sebos? É possível esperar até alguma data comercial que faça promoção? 

Nossa sugestão é que na lista, além das informações do livro, o leitor possa anotar o preço médio dele. Assim, quando houver algum anúncio de promoção, é possível saber se vale mesmo a pena fazer a compra, ou não. Se possível, mantenha essa lista sincronizada com o seu celular, para rápida consulta quando você estiver em uma livraria, por exemplo.

Ter uma lista ajuda o leitor a ter uma ideia de quanto vai gastar com aquelas leituras, de modo a encaixar esse gasto com o orçamento citado no item anterior. Além disso, listar as leituras ajuda a visualizar o que está sendo lido (só autores estrangeiros? Brasileiros? Homens? Mulheres? Brancos? Etc.). Ter uma lista sempre traz uma reflexão importante sobre a nossa forma de ler. 

Verifique o seu plano de telefonia celular
Imagem por LUM3N, via Pixabay.

Muita gente não sabe, mas alguns planos de telefonia celular contemplam formas de ler de graça ou gastando pouco. As operadoras Claro e Vivo dão direito ao Skeelo, garantindo um livro gratuito por mês (e a própria Skeelo tem missões dentro do app que, quando completadas, podem ser trocadas por livros). Já a Tim tem parceria com a Aya Books que também dá direito a um livro por mês a muitos planos.

Sendo assim, verifique com a sua operadora se você tem direito a alguma forma de leitura como essas.

Inscreva-se nas newsletters
Sempre que autores, editoras e livrarias fazem promoções, eles avisam por meio de suas newsletters. Esse é um jeito bom de não perder os descontos e saber quando o livro da sua lista está sendo vendido mais barato.

Compre nas feiras de livros da universidades
Feiras são ótimas para comprar livros e fazer contatos com leitores.
(Imagem por Fernanda Rodrigues)

As universidades públicas costumam fazer feiras de livros em que as editoras vendem suas obras com descontos altos (normalmente de 50% no preço de capa). As promoções acontecem nos sites e no evento presencial. Algumas dessas feiras estão listadas abaixo:

Compre livros em sebos
Garimpar sebos é sempre muito interessante, primeiro porque o volume vem com uma história própria (seja porque às vezes com dedicatórias ou com autógrafos, seja por ser raro), segundo pelo preço em si. Atualmente, além dos sebos físicos há sebos virtuais, sendo assim, o processo de busca pelo livro e de comparação de preços é bem simples de ser feito.

Fique de olho na Amazon 
Além das promoções dos exemplares físicos, há muitos e-books gratuitos ou com preços menores. O leitor também pode aproveitar datas comerciais (como a Amazon Prime Day, a Black Friday e a Cyber Monday) e eventos como o Exploda/ Encha o seu Kindle

Apoie o Projeto Escrita Criativa comprando na nossa loja de Afiliados da Amazon. O valor do produto não muda para você, mas nós recebemos uma pequena comissão. 

Venda livros para comprar livros
Assim como é possível trocar livros gratuitamente, há a possibilidade vender aquele livro que está parado na sua estante. Para isso, você pode anunciar em suas redes sociais, blog e/ou newsletter, vender para sebos ou ainda criar uma loja virtual em sites como a Amazon, a Estante Virtual, a Shopee ou o Mercado Livre. Com este dinheiro, você pode comprar novas obras e fazer a literatura circular. 

Concluindo

É possível ler livros gastando pouco ou até mesmo lendo de graça. Usar como desculpa o preço para cometer o crime de pirataria não é certo, prejudica o mercado e há meios para fugir disso. Só nesse artigo demos 14 alternativas (6 gratuitas e 8 gastando pouco) para que leitores possam sair do/não entrar no caminho da ilegalidade. Além disso, estamos abertas a outros modos de ler sem piratear que não foram listados aqui. Se você souber de mais algum, pode deixá-lo nos comentários deste artigo.

Reforçamos mais uma vez o que dissemos no início deste texto: é papel dos profissionais do livro lutar para que nossas obras sejam lidas por meio legal, respeitando a legislação e os nossos direitos autorais.

Então bora contribuir para a nossa cultura de um jeito que seja bacana tanto para os leitores, quanto para os profissionais do livro? Bora!

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