O
universo da literatura está cheio de personagens icônicos e reconhecidos, desde
Bentinho e Capitu até Harry Potter. É bem comum para um escritor, se
perguntar quais foram as “fórmulas” utilizada na criação de personagens tão
marcantes, dos quais só de mencionar a fama, são os primeiros nomes que vêm à nossa cabeça.
Aqui no Projeto Escrita Criativa, fizemos alguns posts que podem te auxiliar em diferentes aspectos da criação do seu
personagem. Contamos como é importante entender que ele não deve ser algo raso e
superficial, que ele precisa de profundidade; como trabalhar o físico, psicológico,
intelectual, social etc. Abaixo seguem os posts em que é possível encontrar essas e outras informações:
• 3 Jogos que podem te ajudar na criação de seus personagens;
• Criação de personagem: como definir uma personalidade mais realista;
• Foco Narrativo: o que é, tipos e exemplos;
• O texto fala: as vozes dos personagens.
O
processo de criação de personagem é diferente para cada escritor, e você deve
entender qual é o seu caminho uma vez que não adianta usar a “fórmula” do outro; porque, provavelmente, esta fórmula fará com que você faça tudo no automático e talvez
isso não sirva na elaboração de personagens únicos. Contudo, entender um pouco da teoria e da técnica de escrita criativa pode auxiliá-lo a encontrar o seu modo particular de criar pessoas dentro da sua narrativa.
Entendendo a importância de um bom personagem
O
escritor deve ter em mente que não importa o quão bom seja o enredo, se o
personagem não for bem construído, a história pode não despertar nos leitores
aquele sentimento que você esperava, fazendo com que eles, os leitores, abandonem a sua
história. Quantas vezes você já leu um livro e o abandonou por culpa de um personagem
insuportável ou uma narração com um ritmo pesado?
O
personagem não só é o protagonista que vive uma aventura ou situação no livro,
é ele quem leva o leitor pela história através da narrativa, principalmente se
a história for contada em primeira pessoa. Você, leitor, estará vendo tudo através dos
olhos dele: lerá seus sentimentos, pensamentos, ações e reações. Por isso é
importante gerar empatia, assim criando uma conexão entre o leitor e o
personagem.
Então, como fazer personagens empáticos?
A empatia é a capacidade de entender o outro e colocar-se em seu lugar, isso geralmente acontece porque compartilhamos coisas em comum. Pode ser algum trauma, uma vivência ou somente o fato de sermos seres humanos e compartilhar o mesmo habitat. Por isso, você deve gerar personagens que o leitor sinta como seres humanos reais. Para fazer isso você pode trabalhar com alguns aspectos como:
- Quem é o seu personagem?
É
muito importante que você conheça bem o seu personagem, desde a infância até os
tempos atuais, mesmo que o passado não apareça na história, é fundamental você
entender por aquilo que ele passou e por que ele é como é hoje em dia, ou seja,
definir bem a história de vida dele. Também situar a época, idade, nacionalidade, classe
social, educação...
Um
personagem da época medieval não agirá da mesma forma que um personagem que
nasceu nos anos 60. A nacionalidade também é importante porque trabalha com
diferentes culturas, não é o mesmo um personagem que vive inserido na cultura
japonesa que um personagem latino. A idade também interfere no tipo de roupa,
como lida com a tecnologia, vocabulário, quantidade de responsabilidades e
crises existenciais (se é um adolescente estará lidando com a puberdade, se é
uma pessoa de 40 anos pode estar passando por uma crise da meia idade de “quem
sou eu?”).
Outro
ponto é definir aquilo que motiva o seu personagem. O que faz ele seguir a diante durante a história? Onde ele quer chegar? O que ele quer realmente? Uma técnica
é que o seu personagem tenha um segredo, um que nunca será revelado durante a
história, mas que os leitores podem suspeitar ou deduzir de acordo com a
maneira que o personagem age.
Por
exemplo:
○ Segredo: Joana não quer ser
como os membros da sua família.
○
Enredo: é possível notar uma tensão entre ela e os familiares, onde ela
contradiz as opiniões machistas e preconceituosas deles.
Para
não perder nenhum desses detalhes importantes da vida do personagem, você pode
montar uma ficha.
- Consistência:
Seu
personagem deve ter uma personalidade bem definida, onde suas ações e decisões são
condizentes durante o desenvolvimento da história. Importante: isso não
significa que ele deve manter a mesma opinião do começo ao fim, veja os
exemplos abaixo para entender melhor.
Inconsistência: no começo do livro, o protagonista afirma que
é a pessoa mais tímida do mundo, durante o livro continua passando por
situações que sustentam essa ideia, porém, no último capítulo, o personagem
decide, milagrosamente, cantar na frente de todo mundo em um show.
Consistência:
no começo do livro, o protagonista afirma que é a pessoa mais tímida do mundo,
durante o livro trabalha com esse problema, perdendo a timidez aos poucos em
diferentes situações onde seus amigos e familiares o ajudam, no final do livro,
já com a confiança construída, ele decide cantar na frente de todo mundo em um
show.
Uma
narrativa em que as decisões do personagem não são consistentes podem confundir o
leitor e causar um rompimento na história, além de gerar uma quebra de realidade que pode
interferir na empatia. A menos que essa mudança de comportamento seja
proposital e explicada na trama.
- Crescimento:
Todo
bom personagem deve evoluir de alguma maneira na história, isso significa que ele deve passar por uma clara transformação de acordo com tudo aquilo
que ele passou durante o desenvolvimento da história. É importante que ele não
permaneça o mesmo do começo ao fim, já que isso também não acontece na
realidade. Nós somos seres humanos que mudamos a cada nova experiência, o seu
pensamento de hoje não será o mesmo de dois anos atrás ou até mesmo de alguns
meses atrás, o mesmo deve acontecer com o seu personagem para que ele seja mais
real. Resultando em uma maior empatia no leitor, além de interesse em descobrir
mais sobre a evolução do personagem durante todas as situações que ainda estão por
acontecer.
É o
que disseram para mim uma vez e eu repito para vocês: “se você tirar tais
acontecimentos da história, faz alguma diferença na vida do seu personagem? Faz
falta? Se não, então por que você escreveu isso?”, o mesmo se aplicaria para
toda a história, se todos os acontecimentos do seu livro não interferem na vida
do personagem, por que ele existe se no final ele continua o mesmo? Geralmente contamos histórias porque elas nos trazem algo novo, tiram o personagem da vida pacata de antes para abrir portas a uma nova etapa, seja desde descobrir uma terra nova até entrar em um emprego novo.
- Nem tão mocinho, nem tão vilão:
Temos
que entender que nem todas as pessoas são 100% puras ou 100% más, isso também
acontece com os nossos personagens. É muito importante poder explorar essas
camadas da personalidade dele para entender todas as qualidades e defeitos. Um
herói pode apresentar ações egoístas, assim como um vilão pode demonstrar
compaixão. É por isso que existem vilões que chegam a ser adorados por tantas
pessoas.
Uma
pessoa perfeita não existe, assim como um personagem perfeito foge da realidade
e é difícil de se conectar com um que se comporte dessa maneira, por isso é comum
ver leitores que criticam personagens muito certinhos, dizendo que são chatos,
irritantes ou até mesmo bregas. Saber
entender e colocar defeitos no seu personagem faz parte desse processo.
Também
lembrar que aquilo que costumamos mostrar por fora, pode não ser como nos
sentimos por dentro. Isso também pode acontecer com os nossos personagens,
principalmente em uma narrativa de primeira pessoa, saber diferenciar o interior
do exterior.
Um
personagem pode agir como um amigo, mas por dentro guarda um interesse
romântico por outro personagem.
Um
personagem pode sorrir e fazer favores para outro, enquanto por dentro o insulta
com todas as forças.
- Relacionamentos:
Outro
aspecto do personagem é como ele se relaciona com as outras pessoas. Isso
inclui, amigos, familiares próximos e distantes, colegas de trabalho, conhecidos,
vizinhos, namorados, entre outros. Nós, como seres humanos, somos seres
sociáveis e agimos de diferentes maneiras dependendo com quem estamos, o mesmo
deveria acontecer com o seu personagem. Por isso ele pode se demonstrar mais
retraído com os pais e mais solto com os amigos, já com o seu par romântico
utilize voz de bebê. Também é importante definir quais dessas relações o
personagem costuma priorizar e também qual é a sua posição na hora de conhecer
pessoas novas, se é alguém que se demonstra mais tímido ou mais extrovertido.
- Escrevendo personagens de outras realidades que a sua:
Muitos
escritores podem sentir vontade de escrever personagens que vivem em outras
realidades ou situações que a própria; podem ser personagens que vivem em um país
diferente, uma situação econômica diferente, personalidades diferentes ou até
mesmo que apresentam algum tipo de deficiência ou doença.
Nesses
casos é de extrema importância que o escritor faça uma pesquisa bem aprofundada
para poder expressar essa realidade, já que é possível que
você tenha leitores que vivem na pele essa situação e é muito importante que
eles se sintam representados ou que gere um sentimento de empatia e conexão por
viverem o mesmo.
Para
isso você deve procurar fontes reais e também escutar ou ver vídeos de pessoas
que vivem isso no dia a dia. Não ficar somente na opinião de pessoas que estão por fora disso, mas sim escutar quem vive isso. Uma boa dica ao finalizar a obra, é procurar um leitor sensível, ou seja, que está inserido nessa realidade para avaliar se a sua história tem sentido.
Essas foram as nossas dicas para construção de personagens! E vocês? Costumam trabalhar com quais aspectos? Utilizam algum aplicativo para realizar todo esse planejamento ou guardam todas as informações na cabeça? Compartilhem com a gente!
0 Comments
Seja bem-vindo ao Projeto Escrita Criativa!
Deixe o seu comentário e interaja conosco. ;)