Alguns benefícios cientificamente comprovados da Escrita Criativa

 


Você já escreveu hoje?

E se eu contar para você que a prática da escrita não traz somente o prazer de escrever, poder colocar palavras no papel e até mesmo publicar, mas também traz benefícios para a sua saúde mental?

Normalmente a arte está associada a sentimentos, emoções e situações diferentes, entretanto o costume de escrever é uma das várias atividades e conhecimentos que gera reserva cognitiva. Esse termo da neuropsicologia se refere à proteção mental que uma pessoa possui em relação às lesões no cérebro. Quanto mais reserva cognitiva uma pessoa tiver, menos chance ela terá de desenvolver doenças como o Alzheimer e se chegar a ter, a gravidade não pode não ser tanta comparada com aquelas pessoas que não possuem tanta reserva cognitiva assim.

Essa reserva está associada ao nível educacional e às experiências intelectuais. O cérebro possui grande plasticidade e cada vez que aprendemos algo novo estamos criando novas conexões. São elas que ativam e conectam os neurônios: quanto mais conexões realizadas, mais protegido estará o seu cérebro.

Alguns pesquisadores trataram sobre esse tema em suas pesquisas científicas. Arieti (1976) afirma que para que um artista construa suas obras é necessário que haja uma ativação das áreas motoras, visuais e auditivas, estimulando diretamente os processos perceptivos. Além disso, muito estudos demonstram que ao escrever, estimulamos também a memória, atenção e funções executivas (tomada de decisão), mas não somente isso, Escobar (2010) sugere que: 

“a maravilha de criar obriga o ser humano a utilizar áreas do córtex cerebral, permitindo que o paciente possa potencializar os processos cognitivos, diminuindo a perda de memória e podendo manter um melhor estado de alerta”.

Muitos de nós não conseguimos nem imaginar, mas existem muitas condições que fazem com que as pessoas desenvolvam problemas de motricidade fina — por exemplo, não conseguir segurar corretamente um lápis para escrever —, de linguagem — não poder reconhecer palavras, não poder pronunciá-las ou aquela eterna sensação de ter uma palavra na ponta da língua que já não é recuperada tão facilmente —, até mesmo no planejamento e tomada de decisões. Todas as áreas cerebrais responsáveis por garantir essas condições são estimuladas ao escrever.

Foi constatado que escrevemos a partir de vivências, ativando memórias e relacionando distintos fatos. Somente assim conseguimos tomar decisões relativas ao que precisamos para planejar a estrutura do texto: o que vem primeiro? O que vem depois? Tem sentido se eu colocar isso aqui?

Ao revisar o texto com atenção e ao lê-lo, trabalhamos com a área da linguagem (mesmo que não seja dita em voz alta). Além disso, há ainda a possibilidade de continuar aprendendo ao conhecer palavras, buscar novas técnicas e estruturas narrativas.

A escrita não só traz benefícios cognitivamente, mas também é uma forma de expressar as emoções e de utilizar a arte para expressar mal-estar e também para a aceitação de si mesmo. Mora (2013) afirma que os processos criativos permitem trabalhar aspectos relacionados com a inteligência emocional através da escrita esse processo que pode levar ao desabafo e à aceitação.

Uma frase interessante de Solera (2014) nesse sentido fala sobre como os processos criativos geram linguagens comunicativas únicas que permitem falar sem palavras e sentir sem filtro, processando a vivência. Assim favorecendo uma melhora do bem-estar em três áreas de acordo com a OMS: afetiva (emoções positivas), avaliativa (satisfação com a vida) e eudemônica (sentido de significado, controle, autonomia e propósito na vida). Ele diz:

“Narrar a identidade é encontrar o modo de dizê-la”. Garro-Larrañaga.


Devemos lembrar que não somente a escrita, mas outros fatores combinados ajudam na prevenção de doenças, já que existem muitos fatores causantes. As artes também podem servir como estimulação ou reabilitação. Como afirma Alonso-Fernández (1996), um sujeito pode estar dotado de criatividade que o incentive a superar qualquer adversidade.

A escrita pode abrir muitas portas e curar muitas feridas ao longo da vida de uma pessoa, seja na infância com contos infantis que nos fazem imaginar novos mundos, passando pelos textos rebeldes e adolescentes na fase em que mais nos perguntamos quem somos, até os últimos dias para lembrar e dizer quem fomos. A escrita é compartilhar o seu mundo com outros, é crescer e deixar-se colocar para fora porque o que tenho dentro é muito para ser guardado, é poder transbordar em palavras.

Para ver um pouco disso na prática, deixo abaixo um exemplo do quanto o poder da escrita é fascinate. Segue um poema em inglês que foi escrito por um senhor com demência. Esse paciente participou de uma oficina de poesia e, apesar da dificuldade de seus processos mentais, ao final do processo de escrita ele disse que escrever lhe trouxe a sensação de estar de volta a casa. 


The moon is there at daytime too

Moonlight is a manyfold thing

in sorrow and in joy

Delighted in the moonlight

Dance –

There are many ways of dancing

A circle around the moon

especially when it is cold

The moon is there at daytime too

even though it is pale

The growing moon

a mystery

like us

See the moon one evening

even though it is dark

it is spreading its light

Then you are filled

with joy



Julho 2000


 Por fim, acho que vale repetir a ideia da pergunta do começo deste post: que tal escrever hoje?



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Referências:

Aadlandsvik, R. (2008). The second sight: Learning about and with dementia by means of poetry1. Dementia, 7(3), 321-339.

Alonso-Fernández, F. (1996). El talento creador. Rasgos y perfiles del genio. Ediciones Temas de Hoy. Madrid, pp. 107-108, 116. En: Melo, A. (2010). Cerebro, Mente y Conciencia: Un enfoque multidisciplinario. Editorial Neurociencias. Madrid

Arieti, S. (1976). Creativity: the Magic Synthesis. Basic: Nueva York.

Carrascal S, Solera E. Creatividad y desarrollo cognitivo en personas mayores. Arte Individuo Soc. 2014; 26(1):9-19.

Escobar, A. (2010). Psicología y Artes: El arte y la rehabilitación neuropsicológica. http://analobello.blogspot.com. co/2010/08/el-arte-y-larehabilitacion.html.

Mora F. Neuroeducación: sólo se puede aprender aquello que se ama. Madrid: Alianza editorial; 2013.

Ríos-Flórez, J. A. (2015). Activación de las redes neuronales del arte y la creatividad en la rehabilitación neuropsicológica. Cuadernos hispanoamericanos de psicología, 15(2), 47-60

1 Comments

  1. Anônimo11 de julho de 2023 às 10:07

    Amei saber um pouco mais a fundo sobre como melhorar a escrita e vou seguir as dicas.Acredito que a escrita abre muitas portas e também abre muitas portas dentro de nossa mente.
    Beijos.


    https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

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