Tokenismo: tudo o que você precisa saber e como ele pode ser problemático para a sua história

Foto: Jessicahyde de  Getty Images


Antes de falarmos sobre como o tema pode ser prejudicial para o desenvolvimento de uma boa história, é importante entender o que esse termo significa. "Tokenismo" vem da palavra inglesa “token”, que significa “símbolo”.


O termo "tokenismo" surgiu na década de 1960 nos Estados Unidos, durante o período de luta pelos direitos civis dos afro-americanos.  Um dos primeiros registros é de 1962, em um artigo do pastor e ativista Martin Luther King Jr. Em seu texto ele criticava o ritmo lento da integração racial nas escolas e fábricas no sul do país. Ele utilizou esse termo para se referir ao esforço simbólico que foi dedicado às demandas por justiça social feitas pelos afro-americanos. Ou seja, com essa iniciativa gerava-se uma sensação de diversidade e/ou igualdade, porém, sem existir um esforço real para incluir as minorias e dar-lhes os mesmos direitos e poderes do grupo dominante.


De forma resumida o tokenismo é uma técnica geralmente utilizada para dar uma imagem progressista e atual incorporando um número mínimo de membros de grupos minoritários para gerar uma sensação de igualdade ou diversidade, evitando assim acusações de preconceito.


Nos livros, filmes e séries, por exemplo, percebemos isso naquele único personagem não-branco em meio a um grupo majoritariamente de gente branca, uma pessoa com deficiência, ou aquela única mulher no meio de um elenco formado inteiramente por homens.


Tokenismo X Representatividade 


Provavelmente você já se deparou com a frase “Representatividade importa, sim”, mas você já parou para analisar como algo tão importante está sendo trabalhado no conteúdo que você consome e produz?


Muitas vezes confundimos representatividade com representação, ambos os temas são importantes, mas cada um tem seu próprio objetivo. E é exatamente nessa linha tênue entre um e outro que o tokenismo se torna perigoso. Na busca por agradar ou evitar uma dor de cabeça futura utiliza-se desse recurso de falsa inclusão como se fosse um feito histórico.

 

Porém, ao fazer isso se ignora a pluralidade existente dentro dos grupos minoritários, dando a ideia que todas as pessoas pertencentes a ele pensem e agem da mesma forma. O tokenismo transforma as pessoas em ícones representativos, apagando sua individualidade e reforçando muitas vezes pensamentos preconceituosos e estereótipos.

 

Na prática isso resulta em personagens “rasos”, pouco trabalhados que costumam ser plano de fundo para a história de outras pessoas (secundários e terciários), e mesmo que ocupem o papel de protagonista muitas vezes  suas histórias não são trabalhadas em toda sua complexidade .  


Identificando o tokenismo


Atualmente temos mais opções de séries de TV, filmes, livros que incluem em suas narrativas membros de minorias como protagonistas, mas é preciso analisar se eles não estão sendo coadjuvantes da própria história.   Separamos alguns exemplos de Tokens na Cultura Pop.

Um dos papéis mais preenchidos por pessoas não-brancas em produções que pretendem ser mais “diversas” é o da melhor amiga da protagonista branca. Exemplos:


Cristina Yang (Sandra Oh), na série Grey's Anatomy. É praticamente impossível alguém que não tenha ouvindo falar da Yang. Porém, quando analisamos sabemos muito pouco sobre a sua história,  boa parte das informações que temos sobre ela são relacionadas a Meredith Grey. 

Fareeda (Anjelika Washington), no filme Crush à Altura. Neste vídeo intitulado 6 minutos da Fareeda ensinando como ser uma amiga perfeita, vemos como a personagem está no filme simplesmente com o objetivo de "ajudar" a protagonista em sua jornada. Não temos uma aprofundamento em sua história e fica evidente que a personagem teria uma boa história para contar.  

Dionne Davenport (Stacey Dash), no filme As Patricinhas de Beverly Hills. Curiosidade o filme é baseado no romance de Jane Austen, "Emma". 

Lane Kim (Keiko Agena), na série Gilmore Girls.



Com base nisso reflita se você não está adotando esse mesmo recurso em suas histórias.  Adicionando personagem LGBTQ+, negros, asiáticos, indígenas, pessoas com deficiências e outros grupos minoritários apesar para cumprir a cota do "politicamente correto". Aproveite para analisar quantas histórias você já leu que foram escritas por autores que fazem parte desses grupos ou que apresente protagonistas que se enquadrem nesse perfil. 

Outros exemplos de tokenismo:

  • As personagens Cynthia (Ester Dean) e Lilly (Hana Mae Lee) no filme A Escolha perfeita. 
  • O personagem Fez (Wilmer Valderrama), da série That '70s Show. 
  • Raj Koothrappali (Kunal Nayyar), da série The Big Bang Theory. 
  • Sr. Miyagi (Pat Morita), do filme Karatê Kid. 
  • Seraphina Picquery (Carmen Ejogo), do filme Animais Fantásticos e Onde Habitam. 
  • Lily Tucker-Pritchett (Aubrey Anderson-Emmons), da série Modern Family.

Na Série animada série South Park eles criaram o personagem “Token Black”, seu único personagem afro-americano como forma de ironizar esse estereótipo, como pode ser visto neste vídeo: Token toca el bajo


Falar sobre o Tokenismo é um assunto bem amplo e repleto de nuances, porém, esperamos que esse breve resumo desperte seu interesse em pesquisar mais sobre o assunto e treinar seu olhar para reconhecer o que é representatividade e o que é tokenismo. 




Não deixe de conferir também: Dicas para construção de personagens | O texto fala: as vozes dos personagens.


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