4 formas ruins de passar informação numa narrativa e 6 formas de evitá-las

Como você escreve e edita as informações do seu texto?


Olá, escritores!

Uma dúvida que algumas alunas me trouxeram durante as minhas aulas de escrita é: como passar informações importantes, que eu sei que o leitor precisa, na minha narrativa? A resposta passa por alguns aspectos importantes, dentre eles, o foco narrativo, mas trago abaixo alguns pontos que trazem um pouco de luz.

Segundo Lola Sabarich e Felipe Dintel, no livro Como melhorar um texto literário (Editora Gutenberg), um autor erra ao colocar informações no texto quando dá informações excedentes ou não acerta o momento/tom ao passar informações ao leitor. É importante, então, analisar se a sua escrita não está caindo nos seguintes casos descritos abaixo.


Saiba mais: acesse nossa Biblioteca Criativa e veja outras sugestões de livros sobre escrita literária.


Como você transmite uma informação importante no seu texto?


As 4 formas ruins de passar informação

1. Informações redundantes

Normalmente o autor fica se repetindo quando acredita que aquela informação é muito importante ou quando ele tem dúvidas se o leitor compreendeu a mensagem quando ela foi apresentada pela primeira vez.

2. Informações irrelevantes

Quando o autor coloca muitos detalhes na narrativa que não servem para nada. A falta de função torna a leitura cansativa e confusa, além de gerar falsas expectativas para o leitor.

3. Autor que narra a informação com a própria voz

O texto tem um desencontro na voz narrativa. Fica óbvio que quem passa a informação é o autor do texto, não o narrador ou os personagens. Geralmente, essas são informações que o autor considera importantes, mas soam quase como um discurso militante ou didático em um trecho em específico.

4.  Informação sem naturalidade

Acontece quando o autor sabe que precisa entregar uma determinada informação ao leitor, mas não considera a anatomia interna e a lógica do relato. Ou seja, há um conflito entre forma e conteúdo. De modo geral, isso se dá quando:
a.     Um personagem conta a outro algo de que este já sabe;
b.    As reflexões, lembranças e falas de um personagem se apresentam num monólogo tão perfeitamente estruturados que soam artificiais.

Salve esta imagem para não se esquecer dessas dicas. ;)



6 caminhos para a resolução desses problemas

1. Escolher momentos-chaves

Se você tem uma informação que é crucial para o andamento da sua narrativa, em quais momento ela pode aparecer? Se ela tiver que voltar para a história, por que ela volta? Definir os momentos-chaves é uma solução para que o seu texto não se torne confuso e cansativo.

2. Reescrever o que puder ser reescrito, cortar o que puder ser cortado

Tudo numa narrativa tem um porquê. Sendo assim, se esse motivo não estiver claro para o leitor ou reescreva de modo que torne isso compreensível ou simplesmente corte. Sei que, às vezes, dá dó de sair retalhando o texto, mas pense que esse detalhe ou essa informação cortada pode ser utilizado em outro texto, com outra ideia. 

Um modo prático de fazer isso é colocando a palavra-chave da informação na busca do Word e ver quantas vezes e em quais momentos ela aparece. Isso vai tornar a sua visualização mais rápida e vai te ajudar tanto a saber se aquela informação está no momento ideal, se está se repetindo e se pode ou não ser cortada dali.

3. Colocar a informação nas ações, falas e espaço psíquico na boca e no corpo do personagem

Algumas pautas são realmente importantes, mas é preciso trazê-las ao texto com naturalidade. Ao invés de colocar um trecho enorme falando como formas de discriminação são ruins, o que deixaria a narrativa com o tom de livro didático ou de militância, que tal mostrar isso por meio do seu personagem? Ele pode se defender de uma discriminação (ação), ele pode contar para outro personagem como foi viver ou defender alguém próximo disso (fala), ele pode sonhar com isso ou ter uma lembrança de algum acontecimento do gênero (psiquê). Assim, você consegue abordar o tema e passar as informações importantes de modo mais natural dentro do texto.

4. Mudar o foco narrativo

Uma característica que causa estranhamento ao leitor é quando a informação cai do céu, do nada. É importante que ela entre de forma natural no texto, como visto no item anterior. Se a informação dada pelos personagens em geral ou pelo narrador em primeira pessoa não soar natural, talvez seja preciso mudar o foco narrativo para a 3ª pessoa do discurso. Como há a possibilidade que o narrador em 3ª saiba de tudo (no caso do narrador onisciente), não vai soar estranho que ele tenha aquela informação.


Leia também: Foco narrativo: o que é, tipos e exemplos.


5. Repetir em camadas

Caso tenha que repetir uma informação, entregue ao leitor em doses homeopáticas. Sempre que trouxer ao leitor aquela informação, acrescente algo novo ali. Assim, você reforça o que quer dizer e dá um tom de novidade, ao mesmo tempo, evitando que o texto fique cansativo.

6. Escrever monólogos interiores não lineares

Os nossos pensamentos não seguem uma estrutura: você começa pensando que está com fome, e isso te lembra a sua comida preferida, que lembra que você tem que comprar o remédio da sua mãe, que lembra que se ela visse as cortinas beges da sala tão sujas assim falaria um monte, então é preciso ligar na lavanderia pra saber quanto isso vai lhe custar, mas que só de pensar que vai ter que tirar as cortinas do varão, colocá-las num saco e levá-las até lá para buscá-las um ou dois dias depois já dá preguiça. Era bom quando não morava sozinha porque sempre tinha alguém que resolvia essas coisas da vida adulta por você. Como já escreveu Machado de Assis, as ideias ficam saltando de um lado a outro no trapézio, sendo assim, monólogos interiores muito certinhos não são verossímeis e soam como artificiais. Trazer caos para esses diálogos internos é fundamental para passar credibilidade no seu texto. 

Salve esta imagem para não se esquecer dessas dicas. ;)


Por fim...

Como disse no início deste post, são vários os fatores que tornam o modo como damos informações em um texto bons ou não. Minha sugestão é planejar os momentos-chaves e deixar para pensar as dicas na hora da edição. Você pode reler muitas vezes o seu texto, grifando os pontos que considera mais importantes de cada capítulo e, a partir disso, pensar nos pontos apresentados neste post. Pode, ainda, contratar uma leitura crítica para compreender mais profundamente a estrutura da sua narração, o que funciona, ou não. 


Há vários caminhos para pensar em como informar o nosso leitor sem ser chato ou cansativo. O que é fundamental não esquecer é que tudo isso é o que chamamos de "problema de estrutura" e que, portanto, pode ser corrigido.

0 Comments

Seja bem-vindo ao Projeto Escrita Criativa!
Deixe o seu comentário e interaja conosco. ;)