O texto fala: tradições nos livros

Imagem sob licença Creative Commons por KostkaCZ

 

Você já pensou que as tradições presentes em um livro podem falar muito mais sobre a história ou os personagens do que você imagina? Às vezes descrever certas tradições enriquecem a história de maneiras que nem chegamos a perceber.

Já fizemos um post aqui no Projeto sobre as vozes dos personagens, explicando como a maneira que o personagem se expressa pode indicar diferentes características e torna-lo mais verossímil.

Hoje é dia de falar mais sobres as tradições, principalmente porque estamos perto do natal e ano novo.

Ser inserido em uma cultura.


Uma simples tradição pode falar muito sobre o background do personagem principal ou de outros personagens durante o livro. Por exemplo, o uso de roupas brancas no ano novo ou pular sete ondas é muito comum no Brasil, algo que talvez em outros países não seja tão normal assim.

Em comparação a essa nossa tradição de passar o ano novo de roupas brancas, no Peru as pessoas usam diferentes cores para atrair o que desejam (dourado/amarelo para riqueza é um exemplo), já nós brasileiros costumamos fazer isso com a cor da nossa roupa íntima. Na Argentina, eles não costumam usar nenhum tipo de roupa específica ou uma cor para simbolizar algo.

O mesmo pode acontecer com o natal, em alguns países onde a religião cristã não é tão forte, o natal não costuma ser celebrado como tal, por exemplo, no Japão. Também está o povo judeu que celebra o Hanucá.

E não é somente com essas festas que você pode trabalhar no seu livro para trazer o background dos seus personagens e tornar a história mais real, você pode trabalhar com diferentes festividades e datas importantes, como nos EUA que comemoram o Thanksgiving ou o famoso 4 de julho, quem sabe escrever sobre um personagem que faz umas pegadinhas no dia primeiro de abril? Ou que um casal compartilhe uma maçã do amor em uma festa junina?

Trazer esses elementos culturais também é interessante para que os leitores conheçam mais da tradição do nosso país da mesma forma que acabamos conhecendo a tradição de outros países através dos livros e filmes. É situar os nossos personagens na nossa cultura e também trazer a influência dos antepassados dos nossos personagens. Às vezes nem é necessário exagerar nessa representação, você pode tranquilamente colocar elementos sutis, mas que revelam muito ao leitor e também gera uma certa empatia por compartilhar a mesma cultura ou até mesmo conhecer outras versões da mesma tradição já que o nosso país é tão grande.

Mas como assim, trazer influência dos antepassados dos nossos personagens dentro de uma cultura?

Segue para o próximo item!

Diferenças dentro da mesma cultura.


Perfeito, você já decidiu que a sua história se passa no Brasil e já encontrou uma maneira de colocar a nossa forma de festejar e as nossas tradições no livro, mas você já percebeu que cada família e cada região do mesmo país pode comemorar uma mesma data de maneira diferente? E como isso aplica ao seu personagem? Qual tradição pertence somente à família dele?

Como todos sabemos, o Brasil recebeu influência de vários imigrantes e cada um deles com as suas tradições adaptadas ao país. Não é à toa que comemos comidas quentes e pesadas (nem tão apropriadas para o calor) em um clima tropical ou que colocamos o pinheiro de natal com neve falsa quando no Brasil nem neva!

É interessante pensar, principalmente quando escrevemos livros ou contos de natal, por exemplo, qual tradição pertence ao seu personagem. Um protagonista brasileiro com descendência japonesa pode misturar em uma ceia porções de coxinhas com inarizushi, outro pode ter descendência polaca e comer um consomê de beterraba e ter doze pratos em total na ceia. Talvez existam outros pratos tradicionais, além do pavê no jantar do seu personagem, e isso também conta muito aos leitores, de maneira indireta, sobre o background dele.

Como comentei anteriormente, não é necessário pensar somente nessas festividades, podem ser outras ao longo do livro para tornar a vida do personagem mais próxima à realidade e não isolá-lo completamente das tradições da sociedade na qual ele se encontra. Por exemplo, no meu bairro tínhamos desfiles das escolas para o dia 7 de setembro e as quermesses nas festas juninas.

A intenção não é dar protagonismo total na história se o foco não for essa temática, mas sim, poder buscar uma forma de inserir elementos que contem mais sobre o passado, presente e cultura do personagem.

No post anterior contamos como a maneira que os personagens se expressam podem contar mais sobre eles, dessa vez é a maneira em que a narrativa é situada ou os detalhes que queremos descrever na história que vão contar mais sobre eles.

Também podemos falar um pouco das simpatias, não somente as festivas, mas também algumas coisinhas que podemos fazer sem uma data específica, como colocar o Santo Antônio de cabeça para baixo em um copo de água, soprar canela no primeiro dia de cada mês ou guardar uma nota de um dólar na carteira para dar sorte.


São essas pequenas tradições e simpatias que fazemos na vida real que podem ser transferidas para a literatura trazendo uma história mais verossímil aos leitores, além de registrar parte da nossa própria cultura e sociedade nos livros, trazendo sempre mais representatividade para o mercado editorial. 

Imagina só que gostoso ler uma história de natal onde o personagem principal rouba uma coxinha da mesa e a saboreia antes da ceia! Ou então se o personagem for judeu, conhecer mais sobre como essa tradição se misturou com a cultura brasileira. Essas tradições abrem diferentes possibilidades na narrativa, trazendo também mais personalidade aos personagens, afinal, toda família tem o seu jeitinho de ser que é diferente das outras e isso com certeza afeta o dia-a-dia do protagonista.

 

E já que estamos chegando ao fim de 2022, conta para a gente! Quais são as suas tradições de natal e ano novo? Quais tradições ou simpatias você já usou ou gostaria de usar no seu livro? Você e o seu personagem as compartem?

1 Comments

  1. Oi.
    Amei ver que os livros falam, esse texto ficou super completo e cada livro nos trás reflexões e nos ensina muito, também é capaz de nos tirar da nossa zona de conforto e de nos fazer sorrir e emocionar demais.

    Eu não tenho nenhuma tradição, na verdade não comemoro datas comemorativas, eu comemoro mesmo aniversários de casamento e outras poucas datas que são muito especiais para pessoas bem próximas. Fora isso eu eternizo momentos e vivo cada dia.
    Beijos.


    https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

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