Biblioteca Criativa: O estranho caso do cachorro morto, de Mark Haddon



“O estranho caso do cachorro morto” foi lançado em 2003 e traduzido para mais de 48 idiomas diferentes trazendo no total dezessete prêmios ao autor. Mark Haddon nasceu em Northampton, Inglaterra, é ilustrador, pintor, poeta e professor de escrita criativa, além de ter publicado vários livros infantis. Podemos observar refletido em seus livros o trabalhou que realizou durante um tempo com pessoas com deficiências físicas e mentais.

“Gloriosamente excêntrico e maravilhosamente inteligente”. - The Boston Globe

O que podemos aprender com o seu best-seller? É hora de analisar o livro com o olhar crítico de um escritor.

O livro conta a história de Christopher Boone de 15 anos, um garoto diagnosticado com autismo, criado entre professores especializados e pais que não estavam preparados para lidar com todas as suas necessidades. Um dia, ele encontra o cachorro da vizinha morto no jardim e decide que irá descobrir quem foi o assassino de Wellington, iniciando assim a sua aventura.

Ao iniciar o livro, percebemos que a narrativa é um tanto diferente de outros, porque ele não só é em primeira pessoa, como é escrito como se o próprio personagem fosse o autor do livro. Entramos em sua mente e acompanhamos, entre capítulos curtos, o transcorrer da história ao mesmo tempo que vemos seus devaneios, gostos e explicações, é uma completa imersão nos pensamentos de Christopher. Entendemos porquê ele age da maneira que age, como funcionam as suas ideias e conclusões e principalmente a sua ingenuidade em certos aspectos.

Durante o livro o autor tem “sacadas” geniais como por exemplo: os capítulos do livro são números primos. A narrativa é completamente “real”, Christopher descreve exatamente os fatos como são (sem utilizar metáforas) o que faz com que existam duas histórias sendo contadas ao mesmo tempo, a primeira é sob a visão do personagem principal e as conclusões literais que ele tem a partir disso e, a segunda, é a história que acontece entrelinhas, aquela que nós leitores captamos e por muitas vezes queremos entrar na história para contar a Christopher o que realmente está acontecendo.


O foco do personagem está sobre o caso da morte de Wellington, mas de acordo com os acontecimentos os leitores sabem que há muito mais envolvido, antes mesmo que o próprio narrador perceba. A morte do cachorro era só o início de algo muito maior.

No caso desse livro a Arma de Tchekhov é aplicada em certos aspectos, porém há muitas outras informações que estão presentes e não são usadas a futuro, a narrativa não é concisa na hora de dar informações ou realizar comentários, porém é muito detalhada e é perfeita, já que não é um livro comum. O excesso de informação daquilo que o personagem gosta, formam o seu caráter e nos sentimos muito mais próximos dele. O autor adaptou completamente a narrativa para um personagem com autismo e soube captar as essências de Christopher, já que o autismo possui um espectro muito grande e Christopher possui certas características que outras pessoas podem não compartilhar.

O garoto, após realizar certas descobertas, embarca em uma aventura fora da sua cidade tendo que enfrentar muitas coisas que ele não está acostumado, como por exemplo ir a lugares que não conhece, estar em um lugar cheio de pessoas, falar com estranhos e quebrar a rotina.

Além de Christopher, temos outros personagens que também estão bem desenvolvidos na trama, cada um deles possui muita profundidade por más que o narrador afirme que é incapaz de reconhecer emoções nas outras pessoas, ele encontra a maneira de descrever o que vê e nós leitores conseguimos entender. Os personagens são reais, com suas qualidades e defeitos, ninguém é só bom ou só mau, são compostos por uma mistura de ações e podemos questionar muitas coisas.

É um livro recheado de mistério, segredos, traição, morte e muito mais.

Recomendo a leitura para conhecer outra maneira de narrar uma história, além da profundidade na construção de personagens. Existem vários Christophers, Eds (pai) e Judies (mãe) por aí no mundo real.

 *Curiosidade: o livro virou obra de teatro em 2019.

E você, já leu esse livro? Gostaria de ler?




Livro: O estranho caso do cachorro morto
Título Original: The Curious Incident of the Dog in the Night-Time
Autor: Mark Haddon
Tradução: Luiz Antonio Aguiar
Editora: Record
Páginas: 288
Sinopse: Criado entre professores especializados e pais que definitivamente não sabem lidar com suas necessidades especiais, Christopher John Francis Boone tem 15 anos e síndrome de Asperger, um transtorno no espectro autista. Ele adora listas, padrões e verdades absolutas - ele sabe até mesmo todos os números primos até 7.057, além de todas as capitais do mundo! Odeia amarelo e marrom e, acima de tudo, odeia ser tocado por alguém.

Christopher nunca foi muito além do seu próprio mundo, não consegue mentir nem entende metáforas ou piadas. É também incapaz de interpretar a mais simples expressão facial de qualquer pessoa. Ele mesmo define seu cérebro como um computador com uma enorme memória fotográfica e capaz de resolver complicadas equações matemáticas mas com nenhuma habilidade para lidar com emoções ou pessoas.

Um dia, Christopher encontra o cachorro da vizinha morto no jardim. Ele é logo acusado do assassinato e preso. Depois de uma noite na cadeia, decide descobrir quem matou Wellington, o cachorro, e escreve um livro relatando suas investigações. O resultado é O estranho caso do cachorro morto, a história de um garoto com Asperger decidido a resolver o assassinato do cachorro do vizinho que encontra em suas investigações verdades inesperadas sobre si mesmo e sobre o mundo.


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