As idades da leitura e a escrita da literatura infantojuvenil

Imagem por Sigmund, via Unsplash.


Olá, escritores!

Com frequência recebemos perguntas nos nossos plantões sobre a escrita de literatura para crianças e adolescentes. Essas dúvidas são pertinentes, porque há um grau grande de responsabilidade ao se entregar um livro para uma criança, já que o primeiro contato pode fazê-la amar ou detestar a literatura. Além disso, sempre bate aquela dúvida se nós, adultos que escrevemos, não estamos ou sendo muito precipitados com algum assunto ou se estamos tratando as crianças de modo ingênuo demais.


Numa tentativa de dar uma luz a esta jornada, trazemos hoje a teoria do pesquisador austríaco Richard Banberger, que estudou os interesses de leitura e as fases do desenvolvimento psicológico das crianças. A partir do que pesquisou, foi possível que ele nomeasse as cinco idades de leitura. São elas:


Foto por Teo Zac, via Unsplash.


1ª fase: livros de gravuras e dos versos infantis

Os livros desta fase são voltados para crianças de dois a cinco ou seis anos de idade. Nessa época da vida, a criança ainda não diferencia muito bem o que há no mundo externo e no interno e isso a leva a ter uma mentalidade mágica. Os livros dessa fase são importante justamente para apoiá-las nesse processo de entender o que é o "eu" e o que o "outro, o mundo".

Nessa fase é mais comum que as crianças se prendam às cenas que mais gostam do que ao todo da história. Quanto menor a criança, menos ela se prende ao tempo da narrativa (começo, meio e fim).

As características desses livros são o grande número de gravuras/ilustrações que tragam elementos do dia a dia infantil e um texto que tenha o jogo de ritmo (rimas, assonâncias, refrões que se repetem — às vezes com pequenas alterações , parlendas em geral), porque esse tipo de texto é de fácil memorização.

Se for possível, é bacana que o livro tenha texturas e muitas cores.

2ª fase: fábulas, mitos, contos de fadas e fantasia

Entre os cinco/seis e oito/nove anos, a criança está em busca do realismo mágico. Ela está extremamente suscetível à fantasia e vai querer conhecer os seres que oferecem mudança imaginativa, que percebe uma forma/característica humana em tudo. Na prosa, é comum se interessarem por personagens das fábulas, dos contos de fadas, dos mitos/mitologia, das lendas folclóricas. Na poesia, é a fase das cantigas e dos trava-línguas

3ª fase: história ambiental e leitura factual

Dos nove aos doze anos, as crianças estão numa etapa intermediária. É quando elas passam a se orientarem pelo mundo concreto. Ao mesmo tempo em que ainda há um interesse pelo realismo mágico que a leitura maravilhosa proporciona, as crianças passam a querer a desvendar o mundo.

Quem quiser escrever para esta fase pode apostar em aventuras, narrativas em que os personagens desvendam enigmas ou exploram algum problema ou alguma área geográfica e ficções científicas.

4ª fase: histórias de aventuras ou leitura apsicológica

Entre os doze e os catorze anos, os pré-adolescentes estão vivendo muitas experiências ao mesmo tempo. Essa é a fase em que começam a ter consciência da própria personalidade, querem se sentir pertencentes aos seus próprios grupos e que pode haver reações agressivas para determinadas situações vividas. Para esta etapa, muitos autores escreveram/escrevem o que é chamada de literatura sensacionalista, em que há grupos antagônicos (gangues x mocinhos) ou personagens tidas como maquiavélicas. Por outro lado, é também nesta etapa que os pré-adolescentes passam a se interessarem por histórias sentimentais. Aqui é possível escrever narrativas interativas, como as de RPGs. 

5ª fase: maturidade ou desenvolvimento da esfera lítero-estética da leitura

Dos catorze aos dezessete anos, o adolescente passa a compreender seu mundo interior e o mundo dos valores éticos. Por isso, preferem histórias que tenham aventuras viagens de conteúdo mais intelectual (que ponham os valores dos personagens à prova), romances históricos e biográficos, histórias de amor e superação, literatura engajada e do movimento own voice (que abordam questões sociais variadas: de representatividade, de gênero, de diferença de classes, de inclusão, das minorias etc.).

Vale dize que, assim como tudo na vida, esses interesses podem variar conforme o contexto social, religioso e filosófico que o seu leitor está inserido. Também é importante dizer que é fundamental que a criança e adolescente tenham acesso a maior variedade possível desses tipos de poesia/narrativas ao logo da vida. 

Considerações finais

Como vimos, o escrever para crianças é algo muito amplo e envolve compreender como esses leitores pensam e percebem o mundo para que a nossa obra seja melhor recebida por eles. Também é possível apoiar cada criança e adolescente no processo de ampliação da percepção e do entendimento do mundo, para que ele possa desenvolver o senso crítico sobre a sociedade e seu papel nela. Sabemos que a literatura não deve ter a função pedagógica propriamente dita — literatura é literatura e livro didático é livro didático, cada um com sua importância —, mas, se nós adultos podemos aprender tanto com uma boa obra literária, por que não dar essa oportunidade também aos pequenos? 

1 Comments

  1. Oi Fernanda,
    Gostei do texto. Eu fico muito em dúvida quando penso em público alvo das minhas histórias, porque não penso muito nesse aspecto quando escrevo, já que há um tempo faço por hobby e não profissão. Mas na hora de indicar o público alvo ou classificar a história nas plataformas de autopublicação, é interessante pensar nesses aspectos, inclusive para o livro não ter rejeição por ter sido recomendado para o público errado. É comum ver jovem adulto falando que um livro é ruim enquanto o mesmo foi escrito para a faixa de 12-14 anos.

    De qualquer forma, acho que é bem pouco provável que eu escreva para os pequenos.

    Até mais;
    Mente Hipercriativa | Universo Invisível

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